domingo, 22 de junho de 2008

Nossa Senhora Aparecida: Padroeira dos Católicos ou do Brasil?


É um tanto perigoso abordar assuntos religiosos, por ser considerado território minado, cheio de tabus, preconceitos, mas vou tentar ser bem claro e sincero.

Estive na Igreja de Santo Eduardo neste domingo pela manhã e ouvi um relato do padre da localidade (Pe. Émerson), que existe um Projeto de Lei que está para ser aprovado na Câmara dos Deputados com o intuito de mudar a Redação da Lei nº 6. 802 de 30 de Junho de 1980 que concedeu o título de Nossa Senhora Aparecida como "Padroeira do Brasil" para "Padroeira dos brasileiros católicos apostólicos romanos", projeto este proposto por um Ex-Deputado Federal de Mato Grosso, o Senhor Victório Galli.
Veja bem, visitando o Site da Câmara dos Deputados, li e analizei a prosposta do Ex- Deputado e percebi que se isso for aprovado não irá acabar com o Feriado neste dia e nem as Homenagens à Nossa Senhora, e sim a maneira como isso oficicialmente é comemorado no nosso país.

Victorio Galli ressalta que o Estado está impedido de instituir qualquer tipo de culto, conforme o artigo 19 da Constituição de 1988. Segundo Galli, a alteração proposta "deve ser considerada democraticamente útil para a promoção da igualdade entre os cidadãos brasileiros, sem privilégios à maioria de orientação cristã". Segundo ele, a proposta foi sugerida por cidadãos que não professam a fé católica.

Polêmicas à parte, me diga a verdade:
Quem considera Nossa Senhora Aparecida a Padroeira do Brasil não são somente os Católicos? Ou será que eu estou ficando maluco?

Realmente, como publiquei neste blog anteriormente, existe vários movimentos neste país para a promoção da igualdade dos direitos civis dos cidadãos.
Só pra lembrar, houve em São Paulo no mês passado uma passeada de evangélicos que segundo a Imprensa noticiou, compareceram cerca de 3 milhões de pessoas nas ruas, e detalhe: se repararmos, é mais gente reunida num só lugar do que por exemplo, quando o Papa João Paulo 2º esteve por aqui, sempre contando com todo o seu carisma e admiração pelos católicos, apoio da Rede Globo de Televisão e até por muitos evangélicos que eu sei.
Gente, está mais do que na hora das pessoas entenderem que não somos uma "República Católica do Brasil" e sim um País pluralista, inclusive no tocante aos direitos à religiosidade dos nossos cidadãos.
Aqui em Santo Eduardo mesmo, temos cerca de 13 templos protestantes, sem falar dos "centros de "Candomblé"e que eu saiba 1 Centro Espírita tradicional, frequentado até por alguns que se dizem católicos "numa boa".
Na Bahia, então, não é preciso nem comentar que existe uma tolerância enorme da Igreja Católica local com os cultos afros, não é mesmo?
Ao meu ver, se este texto for aprovado,não mudará o valor que se pode dar ao título Padroeira do Brasil para quem crê e professa a Fé Católica, somente separa o nome do Brasil enquanto Nação e República Federativa, de qualquer manifestção religiosa. Nada mais que isso.

E você o que pensa sobre esse tema?
abaixo o link do site com a proposta, tire suas conclusões:
http://www2.camara.gov.br/internet/homeagencia/materias.html?pk=118715&pesq=padroeira

Um comentário:

Unknown disse...

Queró aproveitar a oportunidade para expressar o que penso, através das palavras de Daubi Piccoli.
Durante séculos a Igreja Católica tem influenciado o estado brasileiro, tentando impor normas de conduta à população. Não faz sentido, no entanto, que uma nação, possuidora de uma diversidade religiosa tão variada, deva seguir normas impostas por uma crença específica.
Justiça à multiplicidade de etnias e à diversidade religiosa seria feita respeitando-se a lei, pois por preceito constitucional (CF/88 - Art. 19. "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança...") o Brasil é um estado laico e nenhuma religião, portanto, poderia exercer pressão ideológica junto aos cidadãos livres, nem imprimir sua marca em autarquias ou papéis do estado.
No entanto, o direito de crença ou não-crença é cerceado, por exemplo, quando se manuseia dinheiro em cédulas, onde há uma inscrição de cunho religioso, que não expressa unanimidade nacional. Ao passá-las, os cidadãos não-crentes consolidam um ato involuntário de disseminação de propaganda religiosa, ferindo seus direitos de liberdade ideológica, assim como dos que as receberão, simbolizando, com o ato, a aceitação da referência religiosa expressa nelas.
Outro exemplo de desrespeito à individualidade se dá na maioria das salas de aula nas escolas públicas estaduais, onde há um símbolo religioso dependurado, geralmente sobre o quadro negro, representando apenas as religiões cristãs, desrespeitando, deste modo, as demais; uma vez que foram adquiridos com dinheiro dos contribuintes de diversas crenças e de não-crentes também. Há ainda o agravante de que alguns alunos se sentem constrangidos em certas ocasiões, quando são levados a fazerem "sinais" que não condizem com os preceitos religiosos de sua família.
O próprio ensino religioso nas escolas públicas é uma afronta ao direito individual; sem questionar seu conteúdo, se tendencioso ou não, pois o agravo está na sua existência, não no pseudopluralismo de ideologias, divulgado como parte integrante da disciplina.
As recentes declarações do mais alto líder da Igreja Católica Apostólica Romana, dirigindo-se não apenas aos seus integrantes, o que seria de direito, mas incitando pessoas de todas as religiões e não-crentes a agirem de forma ofensiva contra um determinado grupo, apenas por não compartilharem da mesma ideologia de sua instituição, por exemplo, extrapolou os limites do aceitável nos dias de hoje, tornando-se o mais grave caso de interferência e pressão ideológica.
Sequer deveria ser cogitada a hipótese de uma instituição religiosa possuir tanto poder, quanto mais concedê-lo, em detrimento das leis que regem uma nação livre, democrática e laica. Pois, de outro modo, incorrer-se-á no risco da volta à Idade Média, onde o terror religioso praticado pelos mandatários da ICAR levava seres humanos livres a serem queimados vivos, em praça pública, por discordarem da ideologia da instituição, que se arvorava de detentora dos direitos de decidir sobre os destinos da humanidade, impondo seus dogmas na base da força e em forma de lei.
(*) Professor e jornalista

Publicado em 5/9/2003 no Jornal Boa Vista (Erechim/RS) e A Folha Regional (Getúlio Vargas/RS).

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