A família da idosa Cremilda Dias Lopes, de 79 anos, que de acordo com a suspeita pode ter sido velada viva durante todo o dia deste sábado (20/10), registrou um boletim de ocorrência na 147ª Delegacia Legal (SFI), que deverá dar início as investigações que vão apurar o horário e a causa de sua morte.
O registro foi feito por dois filhos da vítima, Paulo Roberto Lopes dos Santos e Jair Lopes dos Santos. No depoimento, Paulo Roberto contou que por volta das 8h, já no velório, uma de suas irmãs pediu para que ele pusesse as mãos em sua mãe e analisasse que ela estava com a pele macia e quente.
Os irmãos relataram ainda que a técnica em enfermagem, Verônica Gomes da Silva Reis, verificou os sinais vitais de dona Cremilda, ainda no velório e percebeu batimentos cardíacos e pulsação.
Já na hora do sepultamento, às 17h20, ao abrir o caixão pela última vez, o coveiro Jorge Moraes Gomes, que há dezenove anos trabalha na área se negou a fazer o enterro. Jorge, que em todo tempo de profissão, nunca presenciou fato parecido, aconselhou a família a chamar o socorro, voltar com o corpo para a igreja e esperar pelo menos 24 horas.
O irmão da vítima, Cílio Dias dos Santos, de 76 anos contou que o coveiro avisou da suspeita de vida de dona Cremilda e que com o seu consentimento e dos nove filhos o sepultamento foi cancelado.
Antes que a ambulância do resgate do município chegasse, a enfermeira Magali da Silva Ribeiro, enfermeira da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Sapucaia, que é moradora do local, foi acionada pelo regaste e ao chegar à sua casa, ouviu gritos das pessoas para não demorar e ir até a igreja.
“Não consegui ouvir os batimentos cardíacos e a pulsação por que tinha muito barulho e agitação no local. Pela minha ética profissional, não posso afirmar que ela estava viva. Só um médico poderia dizer isso.” Revelou Magali.
A filha de dona Cremilda, Luciana Lopes dos Santos, de 40 anos, que foi junto com a mãe na ambulância, no retorno ao hospital, disse que a idosa teria aberto os olhos mais de uma vez durante o velório e mais uma vez dentro da ambulância do resgate. Ela contou ainda que revezava com a nora em relação aos cuidados com a mãe no hospital e que a teria visto pela última vez na quinta-feira (18/10). No sábado, por volta das 8h, Luciana teria encontrado com a irmã, Marlene dos Santos, na capela mortuária do hospital e segundo ela, o corpo da mãe estaria envolto em dois lençóis e sua irmã já suspeitava de algo errado, avisando que a mãe estaria quente e com a pele macia. Neste momento, ambas teriam solicitado uma nova análise médica, mas não foram atendidas.
“Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Enterrar uma pessoa com o coração ainda batendo é um crime. A gente quer justiça.” Desabafou a filha.
Para a cunhada Jacira Grizoste de Azevedo, 68 anos, que durante o velório chegou a passar mal, restou um sentimento de indignação e de que algo poderia ter sido feito para salvar a vida de dona Cremilda.
"Só Deus, sabe. Um homem ficou insistindo que ela estava viva e para eu colocar a mão nela. Coloquei várias vezes minha mão no coração dela e percebi que estava batendo um pouquinho. Chamei minha neta para sentir também. Foi muito triste tudo isso. Ela aguentou o dia todo com a boca e nariz tapados. Foi uma guerreira".
O primeiro laudo de óbito expedido pelo hospital foi assinado pela médica Graziela Correia da Silva, atestando falência múltipla de órgãos, pneumonia e atelectasia pulmonar. As médicas Nathália Guimarães Ferraz e Maria Franco Torres, examinaram dona Cremilda no retorno ao hospital, constatando que ela não tinha mais sinais vitais. De acordo com a administradora do Hospital Manoel Carola, Kíssila Silveira, depois que a idosa retornou ao hospital, por volta das 21h15, foram feitos dois eletrocardiogramas, que confirmaram o óbito.
“A médica atestou o óbito. Não estive com eles ainda, mas acredito que o diretor clínico, Dr. Patrick e o secretário de saúde, Dr. Cecílio, já devem estar investigando. Agora é esperar o laudo do IML, para saber se realmente ela estava viva ou não”.
A família foi informada no IML, que o laudo pericial do caso será expedido num prazo de 20 dias.
No início da tarde deste domingo (21/10), o corpo de dona Cremilda retornou à localidade de Santa Luzia, onde foi velado novamente, desta vez na Igreja Assembleia de Deus, sendo sepultado no mesmo cemitério.
Priscilla Chiapin/ Daniela Abreu Ururau |
Nenhum comentário:
Postar um comentário