Reportagem na íntegra do Jornal O Diário de Campos dos Goytacazes.
Uma vazão inesperada de 1 milhão e 800 mil litros de água por segundo por mais de seis horas na represa da Hidrelétrica do Garrafão – que está em fase de testes – provocou inundação e danos em várias propriedades às margens do Rio Itabapoana, entre o distrito de Santo Eduardo, em Campos, e Barra do Itabapoana, em São Francisco de Itabapoana, além de propriedades do município de Mimoso do Sul, no Espírito Santo. Pescadores denunciam que muitos peixes morreram com a abertura da barragem. Produtores de aipim, melancia e abóbora e criadores de gado reclamam de prejuízos com a inundação. A Usina Hidrelétrica Pedra do Garrafão, que deverá ser inaugurada em julho, vai gerar 19 milhões de Volts/hora, suficientes para abastecer uma cidade com mais de 80 mil habitantes.
Autoridade ignorada - A represa foi esvaziada para reparos na barragem do canal adutor de água, para mover as turbinas dos geradores na casa de máquinas. O canal, com extensão de dois quilômetros, apresentou infiltrações e corria risco de romper e causar um acidente ambiental. A vazão foi feita na noite de terça-feira e madrugada de quarta-feira, quando a Odebrech informou ao secretário da Defesa Civil de Campos, Henrique Oliveira, sobre a necessidade da operação. O secretário de Meio Ambiente, Paulo Feijó, disse que não foi avisado. “Fui informado que a água não chegaria às comunidades próximas. Perguntei se seria necessária a presença da Defesa Civil e me garantiram que seria uma operação simples”, disse Oliveira. Se a infiltração não fosse reparada, poderia romper o aterro do canal, que é feito com barro. Segundo produtores rurais da região, os engenheiros da Odebrecht disseram que se a barragem se rompesse, os danos seriam maiores que os registrados na barragem do Algodão, no Piauí.
Produtores preocupados com risco de acidentes
Moradores e produtores da região afirmam ter medo da barragem. “Em vez de fazer as barragens com ferragem e concreto, fizeram a contenção com uma manta parta economizar dinheiro. Ela não suportou a pressão da água e começou a romper, provocando infiltração. É uma tragédia anunciada”, alerta um produtor rural que não teve a propriedade alagada.
Empresa responsável nega inundação e afasta possibilidade de riscos
O diretor da Odebrecht Roque Dias Fernandes, responsável da Divisão de Hidrelétricas, negou que tenham ocorrido danos aos produtores rurais, afirmando que o volume de água liberado foi dentro da capacidade da calha do Rio Itapaboana. “Estamos no período de rio seco e posso afirmar que não ocorreu inundação nem danos a ninguém, porque o rio subiu só um metro”, disse. Sofre o risco de infiltração do canal, foi enfático: “Não há riscos. Enchemos o canal de adução para teste, e verificamos pequena infiltração na rocha. Resolvemos baixar a água para fazer um reforço no local da infiltração, que não oferece riscos”, concluiu.
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