Tanto pelo orçamento milionário — R$ 12 milhões — quanto pelo número de salas em que será exibido — quase 500 —, ‘Lula, O Filho do Brasil’ só precisa mesmo ultrapassar os mais de seis milhões de espectadores que ‘Se Eu Fosse Você 2’, de Daniel Filho, levou aos cinemas ano passado, para se tornar o número um. “Queremos que o filme chegue a lugares onde não existem cinemas. Estamos atendendo até a salas de segunda linha”, revela Paula Barreto, produtora do longa do irmão, Fábio Barreto, que, infelizmente, não poderá acompanhar o lançamento. O diretor sofreu um grave acidente de carro no último dia 19 e está internado, em coma induzido, respirando por aparelhos.
Um dia antes do desastre, Fábio conversou com O Dia por telefone e falou de suas ambições com o filme, que só deve encontrar uma oposição: a de quem o considera eleitoreiro. “Meu pai (o produtor Luiz Carlos Barreto) leu o livro da Denise Paraná em 2003 e viu que ali tinha um filme. Ele é imigrante do Nordeste assim como o Lula. Houve uma identificação. É a história de um brasileiro. Espero estar entre os indicados ao Oscar em 2011. É um sonho meu ganhar essa estatueta”, revelou ele, que concorreu com ‘O Quatrilho’ ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, em 1995. Mas, no que depender de Rui Ricardo Diaz, que interpreta Lula dos 18 aos 35 anos, e Juliana Baroni, a Dona Marisa, o público será fisgado sem dificuldade. “Eu me identifiquei demais com a Marisa. Somos arianas, de ascendência italiana. O Fábio me disse: ‘Faz a sua Marisa’. E, como a própria aprovou, acho que passei no teste”, conta Juliana, que conheceu a primeira dama no Festival de Brasília, em novembro. “Fiquei emocionada. E ela, contente. E me disse: ‘Você está igualzinha a mim no filme’”. O presidente, que só assistiu ao filme em São Bernardo no dia 28 de novembro, também aprovou. “Ele ficou muito emocionado, não falou com ninguém. Deve ser difícil rever alguns momentos”, diz seu intérprete. Outra força que move o filme é a presença de Glória Pires como Dona Lindu, mãe de Lula, que sai do sertão de Pernambuco rumo a São Paulo com oito filhos. “É mais difícil interpretar uma pessoa que existiu de fato”, diz Glória, que estreou nas telas sob a direção de Fábio em ‘Índia’, de 1982.
5 MINUTOS COM: O ator Rui Ricardo Diaz tinha feito teste para ser um simples enfermeiro em ‘Lula, O Filho do Brasil’. E foi rejeitado para o papel. Até que Fábio Barreto, convencido por uma assistente, assistiu ao vídeo do rapaz e, impressionado, percebeu que estava diante do intérprete ideal para viver o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na telona. 1. Como você reagiu ao acidente do Fábio Barreto, às vésperas do lançamento do filme? — Com muita tristeza. Semana passada estive no Rio para dar um abraço na famíliaBarreto. Foi grave, mas ele está melhorando. Estamos torcendo para que se recupere o quanto antes. 2. Onde você foi buscar inspiração para interpretar Lula? — Fui assistir a imagens bem antigas dele. Quis saber sobre seus amigos. O Fábio não queria que eu o imitasse, mas encontrasse as emoções que ele viveu. O Lula que está no filme é como eu o vejo. 3. E como você o enxerga? Não dá para acreditar. A história dele parece um filme por si só. É um brasileiro que superou tudo. Migrou do sertão para o Sudeste como muitos. Mostramos no filme um recorte que ninguém sabe. 4. Durante o processo, o que foi mais difícil para você? — A sequência que ele perde a primeira mulher (Cleo Pires) e o filho. Ele se casou para construir uma família. Era novo demais. É complicado, triste. Eu precisava de muita concentração. Todo dia tinha uma cena intensa. 5. Teve contato com o presidente durante as filmagens? — Nenhum. Só depois. Mas pude conhecer sua família. Conversei muito com os parentes, eles me ajudaram a construir o Lula. Só estive com ele depois da sessão (no último Festival de Brasília, em novembro). Ele disse: “Me imita ai para eu ver!”. Ele tem bom humor.
CURIOSIDADES
Todos os atores tiveram auxílio do preparador de elenco Sérgio Pena para capturar o espírito dos personagens. “Viemos de escolas diferentes. O Sérgio fomentou um encontro. Fizemos muita expressão corporal. Criamos uma intimidade”, conta Juliana Baroni. O músico Jacques Morelenbaum assina a trilha sonora do filme. “A vida do Lula tem muito de saga, aventura, com uma trajetória inesperada”, diz ele. Os atores Antônio Pitanga, Milhem Cortaz e Lucélia Santos fazem participações de luxo. “Queríamos excelentes atores para essas pontas no filme”, conta Paula Barreto.
O Dia
Pesquisa do Datafolha aponta que Lula é o brasileiro mais confiável
Os 11.258 entrevistados, de 14 a 18 de dezembro, deram nota de 0 (menos confiável) a 10 (mais confiável) às personalidades apresentadas. Lula lidera a lista, com nota média de 7,9.
Além disso, 39% dos brasileiros deram nota 10 ao presidente, contra 4% que lhe deram 0.
Lula é mais admirado no Nordeste, com nota média de 8,74, contra 7,14 no Sul e 7,57 no Sudeste. O petista recebeu nota 10 de 62% dos pernambucanos, 53% dos cearenses e 48% dos baianos. Em São Paulo, recebeu 10 em 31% dos casos. No Rio Grande do Sul, onde teve pior desempenho, obteve 15% das notas máximas.
O petista é mais bem avaliado pelos mais velhos -recebeu 47% de notas 10 entre os que têm 60 anos ou mais. Entre os que têm nível fundamental e recebem até dois salários mínimos, teve 52% de notas 10.
Entre os mais escolarizados e mais ricos, o presidente fica em quinto. Nesse recorte, Chico Buarque lidera, seguido por William Bonner, Caetano Veloso e Roberto Carlos.
De todas as personalidades, apenas duas -Lula e Silvio Santos- são conhecidas por todos os entrevistados.
Maria Celina D'Araújo, professora de ciência política da PUC-RJ, diz que os primeiros lugares são ocupados por "homens de mídia". "Lula é um grande artista, sabe se comunicar. É um aspecto das novas sociedades de espetáculo. Poucos sabem se aproveitar disso, e o Lula sabe", diz.
Para Maria Celina, especialista nos governos Getúlio Vargas, nenhum presidente explorou tanto a comunicação de massa, principalmente via programas de rádio e TV e colunas em jornais.
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